Mal consigo me lembrar da primeira tragada.
Algo aconteceu comigo, meu corpo ficou mais leve.
Depois de mais algumas a dor passou e eu consegui respirar de novo.
Não sei a razão, e nem pretendo saber, mas toda vez que eu inalava essa fumaça, eu esquecia dela.
Eu esquecia que eu estava sozinho.
Estava sozinho?
Agora não.
No começo era só quando eu me sentia mal.
No começo eu não queria me viciar.
Depois foi quando eu estava entediado.
Acordei às três e meia e já tinha me viciado.
Ela cobriu um espaço que faltava em mim. Que outras pessoas cavaram.
A dor era real.
Todos os dias, eu precisava sentir o cheiro, sentir ela me cobrindo por dentro.
Então eu percebi que não podia me viciar, e parei por completo.
Troquei de vida, mudei os hábitos, perdi o contato.
Alguns (muitos) meses se passaram com ela chamando o meu nome.
Mas eu não ouvia.
Todos ouviam, menos eu. Porque eu não queria. Porque ia me fazer mal.
Ia?
Não. Eu que sou idiota mesmo.
Acendi o isqueiro. Depois de uma longa tragada eu percebi que não posso fugir.
Ela me pegou. Me acorrentou. Eu estou preso e isso não me incomoda.
Ainda a sinto nos meus lábios, nas minhas costas, no meu peito.
Não é a nicotina.
Ela é pior que nicotina.
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