Não há dúvidas que o rock nacional dos anos 80 e 90 fizeram história na nossa cultura. Bandas como Legião Urbana, Titãs, Raimundos, Engenheiros do Hawaii e cantores como Raúl Seixas e Cazuza marcaram o Brasil e possuem uma fama inalterável. Entretanto, na chegada do século XXI, as coisas mudaram. O rock nacional supostamente perdeu toda a qualidade, e bandas incríveis foram substituídas por uma geração mais nova, que, também supostamente, nunca iriam carregar o legado daqueles gigantes. Desde então o jovem brasileiro se distancia cada vez mais da cultura nova ao seu redor e passa a valorizar muito mais o que vem do exterior. Esse texto não é uma comparação entre as gerações, até porque nenhuma é melhor que a outra. São tempos e contextos diferentes.
É incrível como brasileiro chupa pau pra gringo. Eu, com certeza, passei maior parte da minha vida desvalorizando a música nacional e me importando apenas com bandas americanas e inglesas, e sempre as considerei melhores. Quando eu parei pra pensar, fudeu. Eu percebi que bandinhas como NxZero e Fresno eram MUITO parecidas com Simple Plan e outras merdinhas que eu ouvia. Eu xinguei Restart e Cine mas não parava pra pensar que eles seguiam o mesmo movimento que Cobra Starship e All Time Low. De onde vinha o meu direito de criticar? Era apenas por serem brasileiras? Bom, até hoje eu tenho preferência pela letra em inglês, seja por estar acostumado ou por achar que é uma língua mais articulada (porém menos trabalhada) que o português, mas isso não quer dizer que eu tinha o direito de criticar a banda pela nacionalidade.
O foco do post é sobre uma parte especial do cenário nacional: o metal. Se tem uma coisa que é difícil nesse país é tocar metal. Nacionalmente, é o estilo de música mais desvalorizado. Nego paga 500 reais pra ir ver Metallica mas não desembolsa 50 conto pra ir ver o Sepultura destruir em uma casa de show pequena. Tudo bem, é claro que os caras de lá que inventaram o movimento e etc. Mas CUSTA você ouvir, comprar o CD, a camiseta, ir pro show e valorizar os caras que, basicamente, trazem o movimento pro seu país? Cara, acontece de banda EXCELENTE de metal fazer show que aparece 200 pessoas com o ingresso lá em baixo. E depois tem filho da puta reclamando que o Brasil não produz material musical bom. É claro, tocar metal no Brasil não consegue nem pagar conta de luz, e enquanto isso, os vovôs do Iron Maiden estão comprando sofá de ouro com a discografia completa que você tem na sua estante.
Junto do Sepultura nas maiores bandas de metal do Brasil, está o Angra. Esse, que começou por volta de 1992, tem um dos maiores cantores brasileiros, André Matos, junto com os, na minha opinião, maiores guitarristas brasileiros da atualidade: Kiko Loureiro e Rafa Bitencourt. A proposta da banda era juntar música erudita e power-metal, colocando elementos clássicos da cultura brasileira no meio. A ideia é genial, como também é a banda. Apenas sintam esse solo e vocês verão do que eu estou falando. Enfim, a banda mudou de vocalista e membros, só ficaram os dois guitarristas até hoje. Angra explodiu mundo afora, principalmente no Japão (onde são mais valorizados que aqui) e recentemente voltou fazendo tour de comemoração de 20 anos do primeiro CD. Pelo menos eles estão lotando show, e isso é muito bom pro cenário ganhar força. Você pode me dizer que eles têm pouco de nacional, uma vez que cantam em inglês e etc, mas eu te digo: se eles não fizessem isso não iriam ter feito o sucesso que fizeram. Pouco importam a língua a qual os caras resolvem se expressar, o que importa é que eles vieram daqui e usam elementos da música brasileira quase em todas as músicas. Se o Sepultura não cantasse em inglês eles nunca teriam feito sucesso nos Estados Unidos e não influenciariam a cena metaleira de Iowa (sim, Slipknot é produto do Sepultura).
Enfim, caralho, deem valor pras bandas atuais brasileiras. Não vejo nada de errado com Detonautas, CPM 22, Fresno, Hateen, e o caralho de bandas desconhecidas por nós que o Brasil tem a oferecer. Na próxima vez que um amigo seu chegar e te chamar pro show de uma banda nacional, tenta dar uma chance. O ingresso quase nunca é caro e ajuda a divulgar pra dar uma ajuda pros caras. Músico precisa comer. Ah, e comprem CDs. Eu sei que hoje em dia quase ninguém faz isso, mas vale a pena. Eu paguei por um CD do Hateen e do Vowe juntos a mesma coisa que eu pagaria por um do Muse.
OBS: Aqui um desabafo do Edu Falaschi, segundo vocalista do Angra, que é a visão real do músico brasileiro. Eu concordo com muita coisa que ele falou, vale a pena ver.
OBS': Quem quiser conhecer mais o Angra, confiram essas duas músicas deles: Reaching Horizons e Unholy Wars. Dois CDs excelentes, os melhores, seriam o Angels Cry e o Rebirth.
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